Partida do João Mateus

Partida do João Mateus

Íamos mudar de casa… passados 3 anos em casa dos “meus” pais havia finalmente em mim Paz, Humildade e num momento de profunda angústia pedi ao Albertino (“meu” pai) para nos apoiar materialmente. Já não suportava mais o ambiente em casa… uma energia de constante desafio quando eu e o João Mateus só queríamos Paz. Desde esse momento de profunda humildade que estávamos em Paz… íamos mudar de casa, eu já não reagia à necessidade de criticar e de culpar para obter energia e dominar o espaço lá de casa. Também sentia que já tinha aprendido o que precisava com eles. Os últimos 3 anos tinham sido um tempo de profunda auto análise.

Uma parte de mim sabia que algo não estava certo nesta mudança… estava a voltar a programar coisas na agenda e ao mesmo tempo que as escrevia, que agendava o futuro uma voz dizia “isto não está certo” mas lá continuava. Estava a dar o meu melhor. Isto do caminho da consciência tem muito que se lhe diga. No meu caso, é preciso errar muito. E sofri muito para chegar ao ponto de aceitar os erros. Para perceber que estou mesmo sempre a dar o meu melhor. Que também é preciso ir com calma. E estava a ir com muita calma. Com muito Amor e consciência e também a fazer demasiado no que dizia respeito à casa. Estava ainda a querer conduzir demais a vida. Faltava ainda acreditar profundamente que as mudanças iriam acontecer. E ao mesmo tempo estava em estado de graça já muitas vezes. Muita aprendizagem nos últimos anos. Muito sofrimento. E recentemente muita compreensão genuína.

Lembro-me que na manhã em que aconteceu o acidente, eu tinha cantado “Amor I Love You” em resposta a um comentário do Albertino. E o meu pensamento foi “uaaaaau, os milagres são mesmo possíveis”.

Também nessa semana tinha comentado com a Rosarinho (mulher que me deu à luz) e com o Albertino “Vocês nem fazem ideia de como todos estamos diferentes… se tivéssemos um vídeo de nós há 3 anos nos íamos passar-nos de nos ver!”.

De há uns meses para cá, tudo o que fazia por eles dedicava-o a Deus.

Nas duas semanas anteriores ao acidente, eu e o João Mateus fizemos praticamente todos os dias a viagem de “ferry” de Trafaria para Belém. Que Paz… que carinho, transportar o João Mateus ao colo na viagem até ao outro lado. E que divertido e simples olharmos as gaivotas, as bolhinhas de água e a espuma de cores cristalinas, vermos os pneus amachucadinhos do barco, “para não magoar o barco quando ele chega ao cais”, dizia eu.

Quem nos ia levar ao barco era a Rosário, de carro, e nos últimos 2 dias o João Mateus disse “Quero ir para o paraíso com a Rosário”. Na semana passada tinha-o dito em relação ao Albertino. Paraíso era o nosso destino às vezes nos carros de brincar dos parques infantis – era o João Mateus que nos guiava até lá.

E ele queria ir lá com a Rosário e com o Albertino.

Na noite antes do acidente acontecer eu tive um sonho em que eu e a Rosário estávamos num local público com o João Mateus, de repente, estamos a subir para o eléctrico as duas, entramos e eu noto que o João Mateus ficou para trás… encaminho-me para sair, a Rosário não tem acção e, lá à frente, falo com o motorista explicando que o meu filho tinha ficado para trás e ele diz “ah isso agora leva 1 mês para o localizarem” e eu respondo “epá não tem que levar um mês, eu sei onde ele está” e saio. Encontro outro eléctrico e tento apanhá-lo mas como não era a paragem dele não me deram boleia. O sonho acabou aí.

Na viagem para Belém, da manhã do acidente, ele pediu “vamos andar de eléctrico?” e eu respondi “não, vamos à Escola”.

A educadora principal do grupo da escola estava de baixa, cansada e eu tinha estado a falar no dia anterior com a assistente dela que estava agora a cuidar do grupo com outra assistente da escola. Nessa manhã, a do acidente, eu tinha reunião marcada com uma das Directoras da Escola para falar sobre as minhas impressões. No dia anterior tinha enviado um email aos pais a dizer o que sentia – que a Educadora principal precisava de ajuda e que a equipa precisava de comunicar mais. Já tinha noutra reunião referido que o ambiente na Escola era austero mas não tive coragem de aprofundar mais porque aquele não era o meu espaço. Não podia invadir aquele espaço com as minhas ideias mais audazes. Mantive sempre contacto com o grupo mas com muitas reservas, com medo de ser eu própria. Nunca tive coragem de fazer o que realmente sentia com as crianças e dizer tudo o que sentia. Ia dizendo aos poucos por acreditar que seria um processo mas deixei passar muita coisa que hoje, com esta grande lição, não deixaria passar. Aliás, há cerca de um ano tive um sonho que me enviou a mensagem “faz uma cresce, tu consegues” e fui atrás desse sonho durante um tempo mas amoleci. As coisas não correram bem, ainda não estava preparada pensava eu, não se concretizou. Olhando para trás, enquanto segui esse sonho voltei a sentir um entusiasmo que há algum tempo só era capaz de sentir com o João Mateus.

E nessa manhã vieram mais crianças e mais pais para ajudar. O João Mateus perguntou-me “vens ao bosque?” e eu disse “não, vou falar com a Elsa (directora da Escola).” Dei-lhe um beijo e ele lá foi, cheio de energia.

Sempre que eu estava na Escola ele ganhava ainda mais confiança e saia do grupo para ir mais longe. Havia até alturas em que eu antes de ir ter com ele ao espaço onde ele estava, meditava um pouco no bosque e só depois ia ter com ele. E aconteceu por duas vezes ele sair da cancela a correr para os meus braços no momento preciso em que eu chegava! Sem necessidade de comunicação, nada… só seguindo o que sentia.

Naquela manhã, falei com a Directora… sobre o que sentia com muito Amor. Sem exigir nada, só partilhando o que sentia. Todo o processo de adaptação à Escola foi lento, progressivo e apoiado por Deus. Digo apoiado por Deus porque foi difícil e eu não desisti. Algo me chamava até lá… Todos os dias. No 1º dia em deixei o João Mateus o dia todo na Escola vivi uma experiência de quase morte. Foi o 1º desapego, foi doloroso e uma experiência espiritual que marcou a minha crença em Jesus Cristo. Eu explico um pouco porquê. Nesse dia, depois de deixar o João Mateus na Escola, acreditava que era Jesus Cristo e coloquei-me numa situação vulnerável, acreditando na minha luz e em Deus. Veio então a Maria, a Esperança e o José para me ajudarem. Também esteve lá o Manuel, cujo nome em hebraico significa “Deus está connosco”.

A partir desse dia, cheguei a um ponto de verdade comigo como nunca antes e de crença profunda em algo para além desta vida.

O João Mateus nunca tomou medicação convencional. Teve Tosse Convulsa depois desse 1º dia em que o deixei o dia todo na Escola. Também porque não fui capaz de o ir lá buscar nesse dia depois do incidente. Durante duas semanas apenas lhe dei Amor, carinho, cuidei dele como sabia tão bem. Desde que ele nasceu que abandonei tudo. Fui mãe a tempo inteiro. Conhecia-o muito bem. Criei muitas músicas inspiradas nele e para lhe explicar o nosso Mundo. Às vezes pensava que nós vivíamos diariamente o filme “música no coração” porque eu cantava mesmo muito.

Aprendi com ele a observar a natureza e a Amar estar na natureza em silêncio e contemplação. Desde que ele nasceu eu quis viver toda a teoria que tinha dentro de mim. Tudo o que já tinha lido sobre educação, sobre a vida, sobre os mais altos ideais, quis viver com ele. Tudo o que senti fiz. Tudo o que me foi possível fiz. Dei mesmo o melhor de mim em cada instante. Aprendi com ele a aceitar os erros. A fazer o meu melhor. A fazer, fazer, fazer aquilo em que acredito. O que ainda me restava eu falava para os meus pais em tom de exigência. Era a falta de coragem de abandonar o ninho materialmente seguro mas que estava muito longe da vida que queria viver. Fui pedindo ajuda a várias pessoas mas não estava na altura. Também não pedi as vezes suficientes e com a convicção e persistência necessárias.

E continuou a adaptação dele à Escola. Passadas 2 semanas do início da tosse convulsa fui então falar com a nossa médica que segue a medicina antroposófica cuja maior diferença da convencional é ver o Ser Humano também como Ser Espiritual. Ela deu-nos um medicamento homeopático e tomámo-lo os dois. Uma mistura de plantas que ajuda a ter menos medo.

Assim que melhorámos, ele voltou à Escola e eu comecei finalmente a recuperar dos últimos 2 anos de profundo trabalho como mãe e de introspecção interior. Como estávamos muito tempo em silêncio e na natureza, entrei em contacto comigo mesma como nunca antes.

Olhando agora para trás vejo como estava em sofrimento, como era tão exigente para comigo. E como estava sozinha. Em especial nos primeiros dois anos do João Mateus. E a verdade é que fiz aquilo que sentia como nunca antes tinha tido coragem. Entreguei-me à vida como nunca antes. Com uma intensidade avassaladora. Comecei a acreditar em Deus porque era a Sua Luz que me ajudava a adormecer à noite depois de dias extremamente cansativos.

A partir da ida para a Escola recomecei a tratar mais de mim. A dar-me espaço sozinha. Antes de ser mãe não valorizava minimamente o silêncio e o meu espaço.

E nessa manhã falei com a Directora. Quando acabou, estavam os meninos a regressar do bosque. E eu decidi que não queria ver o João Mateus, para não interferir no grupo, para seguir o meu caminho. Mas por alguma razão fiquei mais um pouco. Vejo todos a virem menos o João Mateus. Vejo a assistente a vir com ar preocupado mas decidi não me envolver demais e dou-lhe uma festinha no braço. Já do outro lado da cancela, pergunto a uma mãe que estava a acompanhar o grupo “O João Mateus?” e ela responde “hmmmm… está ali, com os outros meninos” e eu confiei. Naquele momento sinto que foi um Adeus. Foi um confiar, entregar a Deus. Deixar o João Mateus viver a sua vida. Saí e estava indecisa para onde ir. Tinha o telemóvel em silêncio como habitual e fui para a cidade onde não o ouço (telemóvel). Andei às voltas, até que decidi ir a um restaurante e tive a confirmação de ser o local ideal, por encontrar um lugar à porta!

Lembro-me de ter pensado nessa manhã “Será que o João Mateus já se esqueceu que é Divino?” Isto porque o desenvolvimento dele e integração na Vida era absolutamente incrível.

Almocei e voltei a andar às voltas até chegar a hora de fazer a aula de Biodanza. Nessa aula, excepcionalmente, foi uma mãe com a filha e lembro-me de pensar “esta mãe faz-me lembrar a minha escravidão com o meu filho nos 2 primeiros anos de vida dele…”

E então, saio da aula, entro no carro e vejo o telemóvel – 14 chamadas não atendidas da Escola… penso “xiça! Que exagero!” depois algo em mim despertou… “epá, deve ter acontecido algo”. Senti o coração bater com mais força quando percebi que um dos meus maiores medos tinha acontecido. Sim, era um grande medo pelo qual nunca me deixei levar. Acredito profundamente que quando algo tem que acontecer acontece. Não há hipótese. Então liguei de volta e a outra Directora atendeu o telefone e disse a chorar “desculpa… o João Mateus está no hospital” e eu ouvi uma voz interior dizer “hmmmm… é muito sério por isso é importante manter a calma e dirigir-me até ao Hospital com muita calma, pedindo ajuda aos Anjos e manter a minha energia bem focada para fazer o que tem que ser feito. Sim, porque se ele foi para o hospital é porque algo ainda pode ser feito.” E decidi não perguntar pormenores para não me perder na imaginação. As minhas perguntas foram “está em que hospital?” “nas urgências normais?” e depois disse “está tudo certo Sofia. Até já” e lá fui, muito calmamente, com uma paz necessária ao meu bem-estar e para não desperdiçar energia. Liguei ao Klaus (pai do João Mateus que vive no Alentejo) e expliquei o que se tinha passado e pedi-lhe que viesse se lhe fosse possível. Depois também liguei à nossa médica quando já estava quase a chegar. Como não sabia o que se tinha passado lembrei-me que o João Mateus não tinha vacinas e que caso tivesse sido perfurado ou algo assim seria muito importante dar essa informação à equipa do hospital e eventualmente uma informação extra que a médica achasse ok. O que a médica disse foi que eles sabiam o que fazer. E lá continuei eu seguindo as placas com muita calma para não me perder e desperdiçar energia. Esta paz interior na viagem até ao Hospital foi fruto de muita aprendizagem dos últimos anos em que me percebi da inutilidade total de me preocupar e sobretudo do sofrimento e desperdício de energia que a preocupação gera. Repeti tantas vezes o mesmo erro que finalmente aprendi algo.

Cheguei e explicaram-me o sucedido. A situação era preocupante. Ele tinha-se afogado na Escola e tinha estado 40 minutos sem respirar, sem batimento cardíaco. Lembro-me que só queria ir ter com ele, para o ver e sentir e entrar em acção.

1º dia

Quarta-feira – 26 de Maio de 2010.

Era o dia em que ele fazia 2 anos e 8 meses.

Assim que o vi, senti-o ainda presente. Quando comecei a cantar a música ”A Lua, as estrelas, nada se compara à tua beleza. Tu nasceste para encantar e para inspirar. E dizer que Te Amo, Te Amo, Te Amo” ele reagiu. A temperatura do corpo estava baixa mas a minha energia estava tão forte que passado pouco tempo a temperatura do corpo dele começou a subir. Tinha uma mão dada à dele e a outra estava na palma de um dos pés.

Para além desta passagem de energia, cantei todas as músicas que me saíam do coração. Falava as brincadeiras preferidas dele. Fazia tudo para o trazer de volta. Não pensava em nada… E ele começou a voltar mesmo!

Quando o Klaus chegou, ele também reagiu. Passadas algumas horas voltou inclusive a abrir os olhos! 8)

Nos intervalos de trabalho lá dentro ia até à natureza, estar com árvores e desabafar o que ia cá dentro. Chorar. Chorar muito. Falar com Deus. Falar tudo o que sentia. E pedi “Se eu tenho algo a dizer Deus, a minha vontade é que ele regresse.” Tudo era possível. E eu acreditava mesmo que tudo era possível. Passámos a noite com ele, eu e o Klaus. Com espaços para descansar. Bom, dentro das condicionantes do Hospital que só tem cadeiras de recostar e uma sala com duas cadeiras para um Serviço para muitas crianças. Sei que tem vindo a evoluir mas tem sido mesmo a passo de caracol porque as condições são muito más para quem quer dar apoio a um ser que está nos cuidados intensivos. Durante a noite os enfermeiros também vivem condições muito precárias.

Nós estávamos com muita esperança de que ele iria voltar e preparados para o que viesse! Sim, naquele momento tudo o que nos tinha separado nos últimos anos, a mim e ao pai, desvaneceu-se. Nós queríamo-lo de volta.

2º dia

Quinta-feira – 27 de Maio de 2010

Falámos de manhãzinha com a Médica e foi-nos dito que em situações destas a possibilidade de sobreviver é muito baixa e caso ele sobrevivesse, ele iria ter lesões cerebrais permanentes.

E foi então decidido fazer-se um TAC e plim! Magia, depois do sucedido o TAC não mostrava lesões permanentes. Nessa altura ainda respirava sozinho – quando fez o exame foi sem o ventilador. Passei esta informação às pessoas que nos acompanhavam e foi mesmo o 1º milagre e uma imensa fonte de Fé.

Entretanto a temperatura dele tinha ido para febre. De manhã comecei a colocar rodelas de limão nas palmas dos pés dele – truque que a nossa médica me tinha ensinado como técnica natural para ajudar a baixar a febre, e a verdade é que ele já dançava com o corpo. Ele até já levantava os braços e as pernas estavam muito sensitivas. A enfermeira do turno de dia era estudante de medicina chinesa e ensinou-nos mais um truque e funcionou! Senti que estávamos mesmo no bom caminho!

Ao longo do dia pedi Apoio lá acima e pedi Luz. E foi o que senti… senti muita luz. Revi muitos momentos com o João Mateus, os bons, os maus. Agradeci os bons e pedi perdão pelos maus. A cena mais recorrente dos maus era quando eu o obrigava a relaxar para adormecer, obrigando-o a estar nos meus braços – ele esperneava, chorava e depois adormecia. Aconteceu poucas vezes, umas 10 mas foram momentos que espelhavam bem o meu desespero em estar emocionalmente sozinha a cuidar de uma criança. Estar numa casa onde eu não conseguia relaxar porque eram tantas as coisas com as quais eu não concordava, comer açúcar, ver televisão, ouvir 200 “não” num espaço de 1 minuto, enfim… e nunca tive coragem de mudar… por causa da segurança material. E também me lembrei como às vezes era tirana e tantas vezes que ele me pediu chocolate e eu disse “não”. Lembro-me de falar com ele no hospital e dizer “sim, podes comer o chocolate todo que quiseres durante um dia.” Mas claro, o mais importante era irmos para junto de pessoas com a nossa forma de estar. E todos os pensamentos que me iam passando pela cabeça eu estava consciente deles, falava com o João Mateus e dizia “fiz sempre o meu melhor. E vou fazer ainda melhor. Vou aprender muito com esta lição.”

Desde o primeiro dia que começámos a pedir ajuda a várias pessoas e centros espirituais para enviarem luz. Ao final dessa tarde, recebo um telefonema de uma amiga que estava em contacto com ele a nível espiritual e que me disse que ele (João Mateus) não sabia o que se passava. Que ele precisava entender. Ele estava a pedir para eu falar com ele.

E assim fiz, passei a perguntar aos enfermeiros e médicos o que se passava com ele e a explicar-lhe ao ouvido. Comecei a notar então como era importante eu ter mais contacto com a equipa do hospital. Como era tão importante. E também percebi que mais ninguém poderia fazer o meu trabalho. Essa pessoa também disse algo muito importante “o João Mateus quer que vocês estejam presentes no crescimento dele” e isto deu-me força para iniciar algo de muito verdadeiro com o Klaus… disse-lhe coisas que nunca antes tinha tido coragem de dizer e decidimos que faríamos todo o possível para acompanharmos juntos o crescimento do João Mateus. Lembro-me que depois da primeira conversa neste sentido, de ter chorado convulsivamente e de me ter partilhado a um nível muito profundo, imaginei o João Mateus a olhar para mim de lado e dizer “hmmmmm… é um começo… bom esforço! “ e ri-me!

Chegou o início da noite e fui convidada pelo grupo que se reunia desde o 1º dia lá fora a cantar e a rezar pelo João Mateus. Fiz um círculo com eles e foi mágico. A energia foi incrível e saí de lá com muita Luz e inspiração. Continuei o meu trabalho.

Ao final do 2º dia no hospital estava cansada! Derreada… Era meia-noite, só um pai podia ficar e eu estava cheia de sono e lembrei-me de uma das mais valiosas lições do meu Mestre João Mateus – para ir para o Mundo tenho que cuidar de mim e descansar quando preciso. Nas minhas idas à natureza, quando pensava em morte as árvores dançavam com a brisa que, na minha experiência com a natureza, é uma confirmação do pensamento, mas não queria aceitar.

E com o cansaço a imaginação activou-se… comecei também a imaginá-lo cansado e a imaginar que depois de um trauma tão grande e de ter passado tanto tempo do outro lado que a recuperação iria ser lenta. Senti que era um grande esforço para ele continuar a ter os meus estímulos, canções e chamadas. O pai ficou com ele e eu fui dormir a casa de uma amiga da directora da Escola. Foi impressionante a generosidade dela. Foi maravilhoso ter dormido. Estava mesmo cansada.

3ºdia

Sexta-feira – 28 de Maio de 2010

Quando cheguei de manhã, o João Mateus estava muito calmo. Os olhos tinham voltado a fechar-se. Tinha uma expressão lindíssima. E uma barriga do tamanho de um balão. Ele não estava a conseguir digerir. Neste dia trabalhei muito e conversei muito com ele. Pedi perdão por tudo o que não consegui fazer ao longo da nossa caminhada juntos e agradeci todos os seus ensinamentos. Falei com ele mentalmente tudo o que sentia. Estava muito consciente de tudo. Ajudei-o a digerir as coisas fazendo exercícios com as pernas e colocando a mão na barriga dele. Muito trabalho que se estendeu durante toda a noite. Sempre a explicar-lhe o que se passava. Quando ele finalmente fez cocó foi incrível! As enfermeiras que trabalham todos os dias com este tipo de situação ficaram admiradas com a forma como eu lido com cocó. Foram 2 anos e 8 meses a apoiar o João Mateus a fazer cocó – ele fazia sem fralda, a pedido, desde os 4 meses de idade. E a primeira vez que eu tinha ouvido a médica dele a dizer “belo cocó” adoptara essa expressão como sendo a coisa mais natural do Mundo! E a verdade é que ele lá conseguiu expulsar aquilo tudo! Parecia mousse de chocolate mas claro o cheiro era horrendo, sobretudo por causa da medicação que ele tomara nos últimos dias.

Mas vamos recuar um pouco, entretanto, ainda durante o dia fizeram uma ressonância magnética ao João Mateus e lembro-me de uma voz me ter dito “diz que não queres nada disso” mas não tive coragem de seguir essa voz. O que os médicos não compreendiam é como é que ele não reagia aos testes dele sem ter lesões. E como nos hospitais há uma necessidade imensa de seguir as pressas e de tentar explicar tudo cientificamente quiseram fazer o exame. Acompanhei-o a cantar e depois de determinada altura já não me deixaram entrar. Senti que algo em mim quebrara. Quando ele tinha feito o TAC deixaram-me entrar e eu cantei continuamente para nós. Foi um momento lindo de Fé. No caso da ressonância foi um processo diferente. Também estava mais cansada. De qualquer modo, lá fora, fiz movimentos e pedidos de ajuda para Anjos o apoiarem. Sentia-me sozinha nessa altura, sem coragem para dizer o que sentia aos médicos. Estava muito só com o João Mateus, isolada de todo o resto. Estava ainda muito no papel de mãe solitária incapaz de mobilizar pessoas, de falar o que sentia, de fazer a diferença, de pedir ainda mais ajuda, de acreditar na minha intuição.

Durante o tempo de ir para o local onde foi realizada a ressonância magnética, fazer o exame e voltar passou-se um período de cerca de hora e meia em que o João Mateus esteve sem o ventilador, ou seja, a respirar sozinho e também sem medicação. Este tempo foi longo também porque a primeira vez que fomos faltava uma autorização para realizar o exame. Lembro-me de ter ficado feliz mas depois lá fomos outra vez… Eu sentia que algo iria mudar com aquele exame mas não tive coragem de seguir o que sentia. De dizer “não”, vamos esperar. Também porque já estava cansada do processo. Algo que me caracteriza e que tenho vindo a melhorar desde que fui mãe é fazer as coisas cheia de força de início e depois não conseguir manter essa energia. Este foi mais um caso e mais um passo na minha aprendizagem.

E orei muito, o que sentia, pedia a cantar vezes sem conta “Anjo da Guarda do João Mateus, trá-lo bom de volta” e imaginava o Anjo da Guarda dele a trazê-lo de volta.

Mas realmente, depois da ressonância magnética algo mudou.

Nessa noite falámos com uma médica que viu a ressonância magnética dizendo que só viam lesão no tronco do cérebro, o cérebro primitivo. Acrescentou que as lesões não eram permanentes. O resultado da ressonância indicava que o lado primitivo do cérebro, aquele que cuida das funções básicas do corpo como comer, fazer cocó, andar, etc. estava com um mioma. Expliquei-o ao João Mateus e novamente a minha amiga falou comigo e pediu para eu explicar ao João Mateus o que ele poderia fazer com essa lesão. Segundo ela, o João Mateus estava a tentar regressar ao corpo mas algo estava diferente. E que era importante ele perceber o que se passava e saber o que poderia fazer com uma parte do corpo estragado. O que senti nessa altura a nível profundo é que ele (João Mateus) estava a ajudar-nos a perceber o que se estava a passar também a nível médico e a preparar-nos para algo. Por outro lado estava muito confiante porque a Educadora dele na Escola tinha sonhado que ele estava num ovo e que estava a tentar partir a casca para sair. Primeiro não conseguia mas depois partiu a casca e foi a correr ter comigo. E eu fiquei essa noite com ele, fazendo o meu trabalho de lhe explicar o que se ia passando.

4º dia

Sábado – 29 de Maio de 2010

Amanheceu e continuámos no nosso processo intensivo. Também com o Klaus. Lembrei-me que a certa altura ele ia a fugir e eu não deixei! E fiquei tão feliz por o João Mateus estar a fazer tantos milagres acontecerem. Sendo esse realmente muito forte – voltar a juntar os pais para eles finalmente dizerem tudo o que sentiam. Foi o que fiz, pela primeira vez. Limpei muitos pensamentos e coisas do passado neste processo. Falei, falei, falei tudo o que me vinha à lembradura!

Era o 4º dia no hospital e eu continuava a falar com o João Mateus tudo o que sentia, continuava a pedir perdão por tudo o que tinha “errado”, tudo o que poderia ter feito de diferente e disse-lhe que ia continuar sempre a fazer o meu melhor e que sim, algo iria mudar na minha vida. Cantava, explicava, falava com enfermeiros e médicos o que sentia, colocava perguntas, enfim, senti que eu era um canal de presença forte naquele espaço tão cheio de máquinas e crianças doentes.

Este dia foi muito difícil porque o João Mateus já não estava a responder como antes. As únicas reacções mais fortes de que me lembro foram quando o Klaus massajou a orelha dele. E quando o Klaus cantou uma música, caiu uma lágrima. Neste dia falámos com uma Neurologista que viu a ressonância magnética e que nos disse que não havia hipótese nenhuma de ele alguma vez voltar a ser como antes do acidente. Eu continuei cheia de esperança e a acreditar em milagres, mesmo depois deste dia tão longo.

Aproximou-se a noite e eu estava cansadíssima outra vez. Tive que ir. Desta vez fui para um hotel perto do hospital e assim que entro vejo 3 paraplégicos em cadeiras de rodas que vinham de uma competição desportiva. Ganhei logo novo alento e pensei “sim, este pode ser um dos destinos do João Mateus – um campeão”. E até imaginei que poderia ser a nadar depois do sucedido. E também me lembro de ter pensado que eu e o Klaus iríamos fazer de tudo para que ele tivesse as condições necessárias, mas imaginei-me afastada dele. Não me imaginei a viver vida de mártir. Nem ao Klaus. Nem ao João Mateus.

Dormi e ao acordar a meio da noite (2 horas da manhã) liguei para o hospital. O Klaus disse que ele estava com uma expressão lindíssima, os lábios relaxados. E eu, no quarto, desenhei um desenho de cura para o cérebro do João Mateus. Passados alguns minutos o Klaus telefona de volta e senti que não era por um bom motivo. A tensão dele estava muito baixa, tudo a decrescer novamente, inclusive a temperatura. Por essa razão, a equipa do hospital permitiu que ficássemos os dois lá.

Voltei cheia de nova energia e lembrei-me do que tinha feito de início e dei-lhe as minhas mãos. A temperatura voltou a aumentar um pouco. Mas algo mudara… a barriguinha dele estava plana, finalmente. E a tensão continuava muito baixa.

5º dia

Domingo – 30 de Maio de 2010

Dia da Santíssima Trindade

Este 5º dia foi um carrossel de emoções e de acontecimentos muito profundos, banhados por uma Fé e entrega imensas. Era o dia da Santíssima Trindade. E um Tio meu tinha-o consagrado à Santíssima Trindade. Na altura estava longe destes factos mas a verdade é que me sentei à beira da cama dele e pedi um sinal a Deus. Passados alguns segundos, a tensão dele sobe milagrosamente e uma enfermeira que ia a passar deixou cair uma tina de água! Senti o sinal muito forte, já tinha aprendido com o meu Mestre a entregar-me à vida e a Deus e falei com uma das directoras da Escola que reunia o tal grupo que se reunia de noite desde a primeira noite no hospital e com quem eu já tinha dançado e orado, e pedi para que ela ligasse a todas as pessoas que acreditassem em milagres que viessem… eram umas 10 horas e começaram a vir… Senti muita energia e muito Amor. Foi linda a sensação! Também falei com a equipa médica e disse “ok, agora podemos fazer alguns disparates. Estamos mesmo na fase dos milagres.” E pedi-lhes para tirar o João Mateus da cama e dar-lhe colo. E assim aconteceu. O coração dele bateu mais depressa e a tensão também aumentou para níveis aceitáveis. Acreditava que tudo era possível. Até veio um médico que tinha estado com ele na 6ª feira substituir uma médica por breves instantes mas o suficiente para falarmos sobre o caso dele e ele realmente, sem o observar, disse que o mioma tem a fase crítica no 5º dia mas que depois pode começar a decrescer. Eu fiquei totalmente entusiasmada! O Klaus encontrou um contacto de um hospital que cura com a imaginação e quando ele estava a ligar para esse hospital (Petrov Fund), os médicos queriam falar connosco. Ele estava muito diferente, os olhos fechados, já não respirava sozinho, enfim. Lembro-me que antes de ir para essa conversa tinha um top e algo em mim me bloqueou de eu levar aquele top sem casaco. Sinto que foi nesse momento que tudo mudou. Estava, devido ao cansaço, e ainda a crenças do passado, a importar-me com os outros. A deixar-me influenciar…ainda não estava preparada para um milagre destes. E então, os médicos falaram da importância de uma decisão para a possibilidade de doar os órgãos. Isto porque de acordo com os testes deles tudo indicava que o cérebro do João Mateus estava morto.

E então peço novamente um sinal a Deus, sentada sozinha à beira da cama do João Mateus. E vem o Klaus, com uma mensagem de uma médium (Sílvia) de um centro na Suíça que tinha estado a enviar luz, em grupo, para o João Mateus nos últimos dias. A mensagem era: “Eu estou muito bem agora. O meu estado actual permite-me fazer o serviço óptimo à humanidade. Quero que o grupo pense nos meus pais e lhes envie consolação. Sílvia diz-lhes para cantarem uma canção para os meus pais: Ámen, Ámen, Ámen. Eles vão entender.”

Para mim esta mensagem era a despedida. E aceitei e fui até ao grupo que estava lá fora a cantar e partilhei um dos ensinamentos do meu Mestre dos últimos anos “É precisa tanta coragem para continuar como às vezes para parar” e desabafei o que me ia na Alma e o grupo tomou um novo rumo: apoiar a fase seguinte com a sua entrega, Amor e devoção.

Decidimos doar os órgãos e às 10 da noite ele foi transferido para doar o seu coração a um bebé em Portugal e o fígado a um bebé em Espanha.

Para mim, este tempo no hospital foi o tempo perfeito para a despedida, para as conversas, para tudo o que foi feito. Olhando para trás, eu estava apenas a viver cada momento, muito intensamente. Sem pensar. Foi um tempo precioso. Estou muito grata por tudo.

A minha oração para a viagem que o João Mateus fez até local de remoção dos órgãos e sentindo também a viagem dos órgãos para os vários locais foi “que esta doação leve inspiração e esperança a quem estiver envolvido neste processo. Ámen (que isto ou algo melhor aconteça).”

Depois de nos despedirmos dele fomos até um local perto do mar e dormimos a noite toda eu e o Klaus. Antes tivemos um conflito em que ele ia a fugir outra vez e eu fui lá! Estávamos mesmo cansados!

Na manhã seguinte vi, pela primeira vez, uma luz a mover-se lá em cima, em sintonia com um zumbido no ouvido e durante o mesmo período. Foi lindo…

Desci para tomar o pequeno almoço e numa altura chave ouvi a música “Hope I live to tell the secrets I have lived untill now, or they will burn inside of me” e percebi que não queria fazer muito mais do que continuar a bênção da vida a partilhar as minhas lições de Vida.

Nesse dia pedi ao José para fazer o caixão do João Mateus – uma barca e pedi à Maria para fazer uma túnica branca para o corpo no dia da sua homenagem e cremação, tendo a intuição de que iria ser no dia de Corpo de Cristo. Tudo isto veio até mim de forma muito natural! O 1º José com quem falei, o meu Tio, disse que não tinha tempo para fazer a barca, o 2º foi o Tio Manuel que ficou de pensar e depois lembrei-me do José, jardineiro que tratava do jardim da Escola e que ajudou a reanimar o João Mateus depois dele se ter afogado e Plim, assim que lhe falei nisso ele disse que seria uma honra. E ele fez a barca na Escola… tão linda… com a nossa ajuda (minha e do Klaus) e com a ajuda de vários pais na fase final de lixar. No dia em que ficou preparada coincidiu com a entrada de muitos pais na escola por causa de uma reunião. O momento foi mágico. Não foram precisas palavras para que todos entendessem o que era aquele barquinho.

A Maria é a Maria do Rosário, a Rosarinho do início desta história, a avó do João Mateus que no final da tarefa disse “esta foi a tarefa mais difícil que já me deste”. A verdade é que a túnica estava um esplendor. Mas já vou muito à frente.

No dia a seguir à morte do João Mateus, no dia da Santíssima Trindade, depois de ter feito os pedidos a José e Maria, fui descansar durante o dia e ao final da tarde fui ter com as directoras da escola, uma professora e outra mãe e ficámos juntas durante a noite.

Falámos de muita coisa. Veio a Verdade ao de cima. A mãe que me tinha dito que o João Mateus estava no grupo sabia que ele já tinha fugido. E a educadora assistente também o sabia mas não me disseram nada naquela manhã em que eu ainda estava na Escola. Senti paz ao sabê-lo e sabia que iríamos falar sobre isso em breve. Uma das Directoras da Escola também me disse que no dia em que o João Mateus se afogou, uma amiga dela tinha sonhado que recebia uma mensagem no telemóvel: “O João Morreu” e foi tão real o sonho que quando ela acordou foi ver se tinha essa mensagem no telemóvel. Ela teve este sonho sem saber de nada. Um amigo meu também sentiu nessa altura que o João Mateus já não estava na Terra, sem saber de nada. Para mim, estes testemunhos, são a prova de que realmente nós somos capazes de comunicar telepaticamente e de que estamos todos ligados.

Foi uma noite maravilhosa. De manhã voltámos à Escola e o Klaus também veio. Estava um dia de Sol maravilhoso, esplendoroso. Felicidade era o que sentia que aquele espaço estava a emanar. O José começou a fazer a barca nesse dia.

E já tínhamos pensado eu e o Klaus em limpar energeticamente o espaço onde o João Mateus se afogou.

Fomos até lá e sentimos muita tensão. Falámos alto, descarregámos essa tensão, olhámos um para o outro, despimo-nos e fomos nadar lá. Já tinham esvaziado o tanque e estava quase cheio outra vez. Assim que caí na água, vi uma águia no céu e senti uma felicidade imensa. Para mim a águia confirmou que eu e o Klaus estávamos a conseguir ver toda esta situação com olhos de águia, de uma perspectiva diferente dos outros animais que vivem em contacto com a terra. Uma perspectiva muito diferente. E nadámos, divertimo-nos, dançámos na água e a certa altura lembro-me de me sentir como um golfinho. E, para mim, esta foi a melhor limpeza que podíamos ter feito, para nós, para o João Mateus e para o espaço. Depois fizemos uma oração com incenso. Bem, o Klaus fez isso enquanto eu subi a uma árvore para comer nêsperas. Foram as nêsperas mais deliciosas da minha vida!

Lembro-me de pensar a certa altura que era possível até que o afogamento do João Mateus tenha sido com muita Paz, nada do que eu tinha imaginado no Hospital.

Depois almoçámos com a equipa da Escola que estava em limpezas e a seguir fomos descansar. Foi neste momento de descanso que revi os dias no hospital e escrevi datas, sinais, enfim, grande parte do que está factualmente descrito nesta história.

No dia seguinte, eu e o Klaus trabalhámos muito as nossas emoções. Falámos muito um com outro.

À tarde fomos até à Escola e, no bosque, falámos com as pessoas que estavam com o João Mateus na manhã do acidente. Revemos tudo e senti uma imensa felicidade por a verdade ter sido falada sem medo de julgamento. Sem medo que nós os culpássemos pelo sucedido. As assistentes não me disseram nada naquela manhã porque acreditavam que o iriam encontrar como já era costume. A verdade é que eu acredito que nós falamos com os olhos e eu consenti tudo e não me senti culpada porque sempre dei o meu melhor e queria seguir a minha vida. Naquela altura estava tão cega que não conseguia imaginar uma vida diferente da tradicional de cidade em que os filhos estão nas suas gaiolas douradas e nós fingimos que não faz mal porque temos os nossos desafios. Aceitei tudo. Compreendi tudo. Foi um momento muito lindo de partilha profunda e, acredito, com um grande potencial de transformar as nossas vidas de forma luminosamente permanente.

Depois senti que era para estar sozinha. Chegou a confirmação de que a cremação iria ser mesmo no dia de Corpo de Deus e passei a noite sozinha.

Quinta-feira – 3 de Junho de 2010

Dia do Corpo de Deus

Dia da Cremação do Corpo e Homenagem ao João Mateus

Ao acordar, veio até mim a informação de que não deveria estar nenhum Padre presente na homenagem ao João Mateus antes da cremação. Falei com o Albertino, levantei a voz até que ele ouviu e assim foi decidido.

Fui a primeira pessoa a chegar ao cemitério e fui falar com as pessoas que cuidam do espaço de cremação. Inteirei-me do que tinha a inteirar, falei com algumas pessoas que iam chegando e dei graças a Deus por o Albertino estar a tratar dos pormenores burocráticos.

A cremação foi no cemitério dos olivais, o local das oliveiras, árvore que simboliza a paz e fui sentar-me à sombra de uma. A beber água. O Albertino e a Rosário mais uns familiares acompanharam o corpo do Instituto de Medicina Legal até ao cemitério. Foi maravilhoso ter a companhia dos meus amigos na oliveira enquanto esperava por eles e pelo Klaus.

E então… o corpo chegou na sua barquinha de pinho, o corpo vestido pela túnica branca de algodão, esplendorosa, com flores frescas à sua volta. Um pormenor, o corpo já não podia mesmo ter a Luz do João Mateus lá dentro. Senti isso profundamente. E coloquei-me na posição que senti, com o Klaus ao lado e a filha dele, a Jackie, do outro lado. Fizemos uma meditação com a Ajuda de um querido amigo e a seguir as pessoas começaram a chegar.

Inicialmente senti que aquele poderia ser um momento de grande expiação da dor das pessoas que lá estavam e comecei a cantar intuitivamente, sem pensar em mais nada que não luz. As músicas eram as que cantava nos últimos dias sozinha e com o grupo que tinha acompanhado o processo e cantado todos os dias perto do hospital. E foi lindo… falei tudo o que sentia a nível profundo. Como via o corpo dele. O Klaus também falou o que sentia. Cantámos mais. E às tantas o Albertino também falou o que sentia e eu só pedia ajuda lá acima 8) foi maravilhosa a sensação. Senti tanta tanta Luz…

E chegou a altura de o corpo ser cremado e eu pedi às pessoas para cantarmos uma música que fala sobre a ida para o paraíso numa língua indígena “noiana noia nanoiana” e a verdade é que cantámos, depois fomos lá para fora, cantámos, dançámos, com o coração… e quando acabámos, intuitivamente, as cinzas estavam prontas para serem levadas. Coincidiu até com intuição de queimar cedro para limpar a energia do local. Foi perfeito!

E depois fomos até um local para deitar as cinzas. Fizemo-lo em grupo, junto de rochas, no mar. No último momento chorei. O que restava do João Mateus estava totalmente entregue.

Uma amiga muito especial que esteve presente na homenagem enviou-me uma mensagem uns dias depois: “Olá meu amor, não tenho palavras… ainda hoje minhas lágrimas correm, não de tristeza mas sim de felicidade, ainda hoje estou nas nuvens, nunca antes na terra tinha estado perante semelhantes mestres, semelhante sabedoria… que magia, o João Mateus fez verdadeiros milagres senti a presença de Jesus todo o tempo, descrevo como o vi de braços bem abertos para o ar, todo vestido de branco do seu pescoço saia um véu entre o castanho , bege, seu rosto mostrava uma enorme alegria e gratidão, como se de seus lábios sai-se uma gratidão por na terra algo assim acontecer, João Mateus trouxe cura trouxe uma nova esperança e tal como Jesus fez deu sua vida terrena para transformar.

amei ouvir o pai do João, amei ouvir-te, amei a todos, a minha gratidão por palavras não chega.”

E é verdade, nesse dia, assim como nos dias anteriores, sentia-me solta, livre, com coragem para ser o que sou, sem pensar. Esta partida ajudou-me a perceber que é possível eu ser genuína e corajosa, em especial quando apenas sigo o meu coração, o Barco do Amor.

Seguiram-se alguns dias de repouso com um grupo de amigas no Alentejo com a ajuda dos Anjos e regressei agora com o Klaus a um dos locais mais prováveis onde concebemos o João Mateus. Para escrever, meditar, fechar um ciclo em consciência, Paz e Amor.

Algo que me tem ajudado MUITO em todo este processo é a comida. Sigo uma dieta Macrobiótica de momento e a minha consciência mantém-se bastante elevada. Os momentos mais emocionais são quando estou cansada e preciso do meu espaço. Graças ao João Mateus conheço-me cada vez melhor e sei o que preciso. Aceito tudo o que vem de mim e mantenho-me muito alerta e atenta. Estou ao Serviço. Se alguém quiser ouvir-me falar sobre esta história, com intuito de ajudar pais ou pessoas a enfrentar o processo de Morte, Partida, Regresso a Casa, o que lhe quiserem chamar, estou disponível.

Antes desta passagem, queria escrever e dar-me ao Mundo mas não sabia por onde começar, faltava algo… uma peça do puzzle…

Grata João Mateus, Grande Mestre. Grata por tudo. Grata Vida. Grata Deus.

Descobri que depois de aceitar todo o sofrimento, só vem Luz, MUITA LUZ.

Vanda Cristal

Quem é?

Peregrina da Vida. Mulher apaixonada e ao mesmo tempo consciente. Atitude de menina e sabedoria intemporal – brincadeira e serenidade numa só Pessoa. Tenho vivido e sofrido muitas transformações ao longo da vida. E também tenho muitos momentos lindos e maravilhosos. Encontrei um caminho de profunda espiritualidade e estou nesse caminho de consciência e aceitação. Quero aprender a voar continuando a caminhar pela vida, partilhando as minhas lições de vida com quem as queira ouvir.

Porquê este testemunho?

Fui mãe a tempo inteiro durante 2 anos e atravessei o deserto, ganhando grande maturidade. Depois de 8 meses de adaptação à Escola, o “meu” filho decidiu partir.

Eu queria seguir o meu rumo e ele seguiu o dele. Escapou da Gaiola Doirada e voou lá para Cima.

Na experiência de partida do João Mateus, senti-me um Canal de Luz do Mundo Divino para os outros. E senti a presença e Ajuda de muitos Seres de Luz.

E continuo no Caminho de Luz, prático e espiritual de Perdão e Gratidão. Servindo.

Para mim, a vida é uma S.E.C.A. = Sentir, Exprimir, Criar, Amar.

A minha experiência com o Reiki marcou-me em dois momentos muito fortes, já depois de ser mãe. No reiki 1 recebi uma mensagem poderosíssima e muito clara de Deus para mim e meu processo: “Faças o que fizeres, terás sempre mais uma oportunidade”.

o reiki 2 recebi a mensagem, também muito clara, do meu Eu Superior “Vai, continua o teu trabalho de ajudares a construir o Paraíso na Terra”

Todos os Caminhos Vão Dar ao Coração

http://ocaminhodavandapereira.blogspot.com

2 responses to “Partida do João Mateus

  1. Querida Avanda, muito obrigada por esta partilha tão profunda!
    Como mãe revejo-me no sentimento, na tomada de consciência, que estou a dar o meu melhor, mas tantas vezes anseio dar mais e mais e fazer melhor!
    Com gratidão pela coragem, testemunho e sabedoria.
    Um abraço enorme

  2. Estou sem palavras…

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